IA pode ser aliada na inclusão e na educação, afirmam especialistas em debate na CBN
18/11/2025
(Foto: Reprodução) Inteligência Artificial é usada por 48% das empresas goianas
A inteligência artificial deixou de ser um tema de nicho e passou a ocupar um papel central nos debates sobre economia, educação, cultura e política. Essa ideia conduziu a conversa no estúdio da CBN Goiânia durante o Hora CBN desta segunda-feira (18), quando o secretário-geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, e o coordenador de tecnologia do Senac Goiás, Stefany Mendes de Souza — o professor Souza — discutiram o impacto da tecnologia e os caminhos para que o Brasil a utilize de forma ética e inclusiva.
José Bonfim, Nathalia Lima, Adriano da Rocha Lima e Professor Souza no Hora CBN
Wildes Barbosa/O Popular
Já na abertura, Adriano situou a IA no contexto global, argumentando que ela representa uma mudança estrutural comparável à chegada da energia elétrica.
“A inteligência artificial está reorganizando o tabuleiro geopolítico. É uma tecnologia que movimenta a economia numa escala inédita. Assim como a eletricidade transformou a sociedade há mais de cem anos, a IA muda nosso comportamento, nossos processos e a forma como nos relacionamos”, disse.
Segundo ele, o principal risco não está na tecnologia em si, mas na postura social diante dela: “Não podemos ser reféns da IA. Precisamos ser protagonistas, debater, discordar, entender. Ética é inteligência aplicada à vida coletiva. Se não enfrentarmos o debate, alguém vai enfrentar por nós”.
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O secretário também comentou sobre a necessidade de separar o medo legítimo de manipulação — como deepfakes em ano eleitoral — da paralisia.
🔎 Deepfake é uma tecnologia que usa inteligência artificial para criar vídeos, áudios ou imagens falsos, mas extremamente realistas, capazes de simular a fala, a aparência ou até os movimentos de uma pessoa. Na prática, ela consegue colocar alguém dizendo ou fazendo algo que nunca aconteceu, o que torna esse recurso poderoso, mas também perigoso quando usado para enganar, manipular informações ou interferir em processos sociais e políticos.
“Todo mau uso deve ser penalizado. Mas não podemos travar a inovação porque alguns usarão a tecnologia de forma indevida. É assim com carros, medicamentos, internet, tudo. O mau uso não acaba com o uso — ele exige responsabilidade”, completou.
Adriano da Rocha Lima, secretário-geral de Governo de Goiás, destacou que a IA deve ser usada como ferramenta de bem-estar social e que o debate público é essencial para garantir seu uso responsável
Wildes Barbosa/O Popular
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Do outro lado da mesa, o professor Souza trouxe a perspectiva de quem trabalha diretamente com tecnologia e com a formação de novos profissionais. Ele defendeu que a IA seja incorporada à educação como ferramenta de apoio, sem substituir a mediação humana.
“A inteligência artificial precisa estar na sala de aula — não como substituta, mas como instrumento. O professor continua essencial. O aluno também deve usar a IA, mas precisa saber como usar”, explicou. Para ilustrar, contou como ensina a própria filha de sete anos: “Eu ensino ela a criar prompts que mostram o caminho, não a resposta. A IA ajuda a pensar, não a pensar por nós”.
Souza também abordou um ponto sensível do debate global: o risco de ampliação das desigualdades.
“A IA reproduz padrões, e nós somos preconceituosos por natureza. Se o código nasce enviesado, ele devolve desigualdade. Não é o algoritmo que é injusto — somos nós. Por isso a regulação precisa ser cuidadosa e construída desde a concepção, como airbag e cinto de segurança”, disse, numa analogia que marcou a entrevista.
A discussão ganhou profundidade quando ambos analizaram como o medo de novas tecnologias acompanha a história da comunicação. Adriano citou que, quando a fotografia surgiu, temia-se o fim da pintura; quando a TV apareceu, anunciava-se o fim do rádio; e com a internet, o fim da TV. “Nenhuma dessas tecnologias eliminou a outra. Elas se transformaram, conviveram, criaram novos mercados”, afirmou. Já Souza complementou:
“A IA não extingue a criatividade humana. Ela amplia possibilidades, mas sem abolir o que somos. Não existe inteligência artificial sem inteligência humana”.
Professor Souza, especialista em tecnologia do Senac Goiás, defendeu o uso da inteligência artificial como ferramenta educativa e inclusiva, reforçando a importância de “ensinar pessoas a usarem a IA — e não substituí-las
Wildes Barbosa/O Popular
Um dos momentos mais fortes do programa surgiu quando Souza refletiu sobre acessibilidade e inclusão, após ouvir o relato de um ouvinte cego que usa IA para criar esculturas.
“É esse o potencial da tecnologia. Ela dá autonomia, amplia sentidos, permite que pessoas produzam o que antes não conseguiam. Isso é inclusão real”, defendeu.
Mesmo diante dos desafios éticos, o tom dominante foi de otimismo, mas um otimismo ancorado em responsabilidade. “A IA é uma potência global que ainda está sendo domada. Cabe a nós decidir como integrá-la à sociedade”, disse Adriano. “O debate público é a nossa garantia de que ela será usada para o bem-estar coletivo”.
Discussão ocorreu às vésperas do ETOS.IA, maior encontro de ética e IA do Brasil
A entrevista também serviu como uma preparação simbólica para o ETOS.IA, evento internacional que reunirá, entre os dias 20 e 22 de novembro, no Passeio das Águas Shopping, alguns dos principais nomes do mundo em ética e inteligência artificial — como Luc Ferry, Michael Sandel, Vint Cerf, Ronaldo Lemos e especialistas europeus responsáveis pela regulação da tecnologia. O encontro é gratuito e as inscrições estão disponíveis em 2025.etosgoias.org.
Para Adriano, o evento reforça o espaço que Goiás ocupa no debate global.
“Não conheço outro encontro igual no mundo. É ousado, é grande e coloca Goiás no centro das conversas mais importantes do nosso tempo”, afirmou.
Ao final, os dois convidados convergiram para o mesmo diagnóstico: a inteligência artificial não é o futuro — é o presente.
“Quem entende a tecnologia toma decisões melhores. Quem teme sem conhecer, vira refém”, disse Adriano.
Souza completou: “O caminho não é proibir, é orientar. Não é fugir, é debater. Só assim garantimos uma IA que sirva às pessoas — e não o contrário”.
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